domingo, 17 de março de 2013

O Papa, a Igreja e o Suicídio.


Não sou e não tenho a menor pretensão de ser um profundo conhecedor de teologia, no entanto me permito aqui manifestar minha dúvida sobre algo que sempre foi preconizado pela igreja e agora, com a renuncia de Bento XVI, me fez repensar o assunto sob um ponto de vista que pode até parecer inusitado, mas que tem tudo relacionado ao que quero expressar.
Desde a época em que, quando criança, eu frequentava a Igreja Católica acompanhando minha mãe, que até hoje é uma fiel de carteirinha, onde cumpri todas as regras do catolicismo até chegar a primeira comunhão, que ouço dizer que a pessoa que se suicida não tem direito ao perdão divino pelo fato de retirar de si aquilo que pertence a Deus e não a ele, ou seja, o dom da vida.
O suicida atenta contra a criação divina, afronta o criador e renega a sua própria existência e por isso sua alma já está condenada, pois ao tomar tal atitude estaria ele sob domínio do Diabo e num gesto extremo de fraqueza se entrega. Daí em diante, Passa a pertencer ao seu clã e habitar o mundo das trevas, fazendo com não lhe seja permitido, sequer, uma missa pelo espírito. 
E o que isso tem a ver com a renuncia ao Papado de Bento XVI?
Tem tudo a ver!
O primeiro Papa na Igreja Católica foi São Pedro, um dos 12 
apóstolos de Jesus Cristo. Nascido em 10 a.C, Simão Pedro 
exerceu seu pontificado entre os anos 30 e 67.Ele tem uma grande importância para os católicos, pois é considerado o fundador, com São Paulo, da Igreja.
Foi considerado o primeiro bispo de Roma, apesar de não existir consenso histórico sobre sua ida à capital do Império Romano.O cargo de primeiro Papa lhe foi dado anos depois, pois tal título começou a ser usado cerca de dois séculos mais tarde.
Apesar de surpreendente, a renúncia de Bento XVI ao posto de Sumo Pontífice da Igreja Católica, não é um fato inédito. Ele é o quarto Papa a renunciar. 
O primeiro Papa a deixar suas funções foi Ponciano, em 235. Celestino V renunciou em 1294. O último a optar por deixar o posto ainda em vida foi Gregório XII, que o fez em 1415, decisão que encerrou a chamada Cista do Ocidente. 
A renúncia de um Papa está prevista e estabelece que para que seja válida é necessário que seja livre e especifica, que não precisa ser aceita por ninguém."Se o Romano pontífice renunciar a seu ofício, requer-se para a validade que a renúncia seja livre e se manifeste formalmente, mas que não seja aceita por ninguém", estabelece o cânone 332,2 do Código de Direito Canônico, único elemento válido para julgar o tema.
Mesmo sendo "legítima" a renuncia de um Papa, ao considerarmos que desde sempre aprendemos que este é o representante maior de Deus na terra (para alguns é o próprio) e que sua figura nasce a partir de um rito de passagem onde, hoje, a Mão Celestial, por meio dos Cardeais, se encarrega da sua escolha que, em tese, considera dentre outras coisas sacras, uma conduta ilibada e uma vida de total devoção a religião, e por isso, não podemos deixar de relacionar a sua desistência do cargo à negação de uma escolha Divina.
Ora, por mais que haja um documento que ratifique tal atitude, onde fica a vontade de Deus nesse ínterim? Quando da sua escolha não nos é passado que o escolhido é seu legítimo herdeiro e co-herdeiro de Cristo?
Se é assim, parece-me que esta é mais uma contradição da Igreja.
Ao meu ver, trata-se de uma situação de conveniência onde se afirma e se nega simultaneamente coisas que, por mais que se tente mostrar que são diferentes, na verdade são iguais.
Da mesma forma que o suicida atenta contra Deus, o Papa, ao renunciar, faz o mesmo, ainda que de outra maneira.
Assim, temos dois pesos e duas medidas que são relativamente simples de se entender. O suicida não representa nada além de si mesmo e por isso sua "punição" se torna simples e exemplar para os demais fiéis e,  ao contrário do que se possa imaginar, fortalece ainda mais o poderio da Igreja na medida em que esta lhe impõe o castigo do abandono e da repulsa. Enquanto isso, a renúncia do Papa se constitui num imbróglio que teve como resolutividade a invenção de um código para justificar o injustificável ( pois como um documento escrito pelo homem pode mudar a escolha de Deus?). Mas foi necessário! Se assim não fosse, como a Igreja iria resolver tamanha mixórdia? Como ficaria sua "moral" diante do mundo?
O fato é que tanto o Papa como o suicida são pessoas, e enquanto tais, possuem o direito de fazer (ou desfazer) o que quiserem no que diz respeito as suas vidas. Se é que existe realmente o livre arbítrio, ele deverá valer para todos em qualquer condição ou cargo que ocupe.
Afinal, o Deus que habita o Papa é o mesmo Deus que habita a todos nós....ou não?




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