domingo, 23 de junho de 2013

Nos entendemos?

Realmente não há como deixar de se surpreender com as manifestações de rua ocorridas nos últimos dias. Parece-me que havia um sentimento de indignação recolhido, que buscava havia tempo, um motivo realmente forte para se exteriorizar, que, certamente, não foram os R$ 0,20 de aumento nas passagens de ônibus.
Como tenho dito em vários momentos, o Brasil, ao meu ver, vive uma crise de identidade que mais hora, menos hora, viria a tona, e veio.
Desde a transmissão do cargo de Presidente de FHC para Lula, pairava uma certa desconfiança no ar sobre o que poderia acontecer ao país. Naquele momento fiquei meio recluso, pois torcia para que tudo desse certo e fosse feito do jeito que o PT apregoava a pelo menos vinte anos, mas, logo nos primeiros meses a sensação de que as coisas não ocorreriam como previsto, começou a ficar mais forte.
Perdi a conta de quantos protestos participei em favor da democracia e moralização do país. Desde a mobilização pelas "diretas" que reuniu mais de um milhão de pessoas na Avenida Presidente Vargas até o "fora Collor", onde o destaque foram os "caras pintadas", sempre capitaneados pelo Partido dos Trabalhadores.
Fernando Collor caiu por meio do impeachment, assumiu seu vice Itamar Franco, que em banho-maria preparou o caminho para o lançamento da candidatura de seu então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Por dez anos, tivemos no Brasil um governo neo-liberal, que para muitos significava a predominância do capitalismo sobre o tão cultuado socialismo que, segundo os mais radicais, acabaria por fim com a possibilidade de aproximação das classes sociais.
Naquele momento a dinâmica do PT se mostrava cada vez maior, apesar das sucessivas derrotas de Lula nas urnas, e começamos a perceber que apesar das forças antagônicas não tardaria muito para que a esquerda assumisse o país, dada a insatisfação popular.
O PT sempre foi tido como uma partido diferenciado, onde as palavras de ordem eram, ética na política, civismo, moral, amor a pátria e igualdade social. Isso, repetido ao longo dos anos, fez com que a sociedade mais esclarecida começasse a se render aos motes de mudança.
Nada mais coerente num país onde sempre houve o predomínio da burguesia, desde seu descobrimento, do que a ascensão política de uma pessoa do povo ao cargo mais alto de representante da nação.
Finalmente Lula foi eleito! A esperança se materializou e virou realidade.
Entretanto, passados os primeiros meses de euforia, comecei a perceber que as coisas não aconteciam como haviam sido ditas por longos anos.
O que se replicou durante ao menos duas décadas em relação a mudança que produziria um operário no poder, começou a virar frustração.
As evidências sobre demagogia, casuísmo, corporativismo, corrupção, paternalismo e controle da máquina estatal a todo custo, saim cada vez mais da esfera do pensamento para a prática do cotidiano.
O PT não tinha esse direito!
A sociedade que tanto relutou em colocá-lo no poder, mas acabou cedendo ao seu discurso de partido diferenciado foi descaradamente enganada e teve como triste surpresa o fato de descobrir que o Partido dos Trabalhadores em nada se destacava positivamente dos que estavam no poder anteriormente, ao contrário, chegava a ser pior, pois, se maquiou durante todo o tempo num discurso contrário a falta de transparência com que as coisas políticas eram feitas e, no entanto, conseguiu negativamente, superar todos os métodos empregados, exemplo maior disso foi o mensalão.
O que percebemos nos Governos Lula foi uma falácia tamanha em relação aos principais problemas do país ao mesmo tempo em que se elaboravam meios de transformar a classe mais rasa da sociedade em eternos dependentes dos programas governamentais, através das esmolas em forma de bolsas, o que os tornariam eleitores fiéis do partido, uma vez que não se cobra nenhum esforço para tais benesses, basta ser miserável, sem educação e sem oportunidade ou mesmo indisposição para o trabalho.
Na macro economia não há como negar que se o País conseguiu algum tipo de avanço, deu-se isso, principalmente, aos métodos empregados pelo governo FHC, que saiu daquela fórmula desgastada dos pacotões, que em nada resolviam o problema e partiu para uma alternativa arrojada, de verdadeiro controle da inflação, acabando com o efeito ilusório das indexações ou gatilhos salarias que só serviram para piorar cada vez mais a imagem do país no contexto internacional. Surgiu uma nova moeda, o Real, e ao que parece, veio para ficar. Por isso, dentre outras coisas, Lula deve muitos agradecimentos a Fernando Henrique Cardoso.
Quando eleita, pelas mãos já enlamaçadas do seu antecessor, Dilma Rousseff nada mais era do que uma tarefeira pragmática, mas, a essa altura dos acontecimentos, isso era o que menos importava, pois quem estava se elegendo na verdade era novamente seu mentor. Como se diz na Umbanda, Dilma era apenas o "cavalo", o corpo. A alma ou o espírito continuava a ser do Lula.
Mas, como sabemos, o maior ódio é aquele que nasce do amor.
Por mais que ainda seja refém dos "miseráveis", que servem de sustentáculo para a politicagem reinante neste país, a sociedade esclarecida cansou!
Cansou de por longos anos ouvir discursos que não condizem com a prática, cansou de ir as urnas na esperança de melhorar o país, cansou de ser usada para atingir objetivos eleitoreiros, cansou da mesmice que se repete nos políticos, enfim, cansou de ser enganada.
A onda de protestos que hoje vemos nas ruas, ao meu ver, nada mais reflete do que essa indignação que vinha sendo guardada e tolerada até agora, que culminou e se externou com a priorização dos gastos elevadíssimos para as realizações da Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, em detrimento ao bem estar social.
Num país onde ainda temos quase 50% dos domicílios sem saneamento básico. Num país onde o serviço de saúde é precário e excludente mesmo para aqueles que tem condições de obter um plano e principalmente para a massa que fica entregue ao serviço público. Num país onde a educação nunca foi prioridade a ponto de termos ainda um grande número de analfabetos. Num país onde o transporte público não funciona a contento, quando se tem, pois em algumas localidades ele sequer existe. Num país onde se tenta resolver a questão da violência por meio de programas e acordos que simplesmente não resolvem o X da questão... é inaceitável que se gaste tanto dinheiro com o "circo".
Onde vamos desaguar com os protestos atuais em contraposição aos métodos de governar e empregar o dinheiro público, só o tempo dirá, mas, uma coisa é fato, O Brasil não vai mudar, o Brasil já mudou, e a atual classe política está em polvorosa, pois, certamente, independentemente de partido, terá que se reinventar.
O resultado do que está acontecendo esperamos ver nas próximas eleições, mas, o melhor dos quadros seria, se pudéssemos, não mais tê-los como nossos representantes, ou ainda, simplesmente, que eles nos deixassem em paz.



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