terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Opinião: Os idiotas de Brasília

Mais uma vez os jovens de Brasília demonstraram o quanto ser filho de Funcionários Públicos (muitas vezes de alto escalão) , estudar em colégios de excelência e ter acesso ao que há de mais avançado nos meios tecnológicos não é capaz de se sobrepor a burrice intrínseca de alguns.
Ao tocarem fogo (de novo) em dois mendigos - um deles morreu - penso que ao menos duas coisas são muito óbvias: 1) A incompetência do poder público, pois, numa cidade planejada com menos de sessenta anos de fundação e centro do poder nacional, não deveriam existir desvalidos e 2) Que a estupidez está presente em todas as camadas sociais, portando, quem tem condição financeira também pode se tornar um idiota e mais idiota até que os outros, uma vez que todo o suporte para não ser lhe foi dado.
Quem sabe não está sobrando impunidade e faltando atrativos mais inteligentes em Brasília? Esperamos que haja justiça. Ferro neles!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Crônica: Buenos Aires (final)

Quando ouvimos falar que na Argentina o Maradona é tratado como um Deus, achamos que existe um exagero desmedido na colocação. Mas, por incrível que pareça, não há! É fácil encontrarmos fotos, estátuas e bustos de "Dieguito" por todo canto. Não consigo me lembrar de tamanha referência e idolatria em vida a uma pessoa, de forma espontânea, em qualquer outra parte do mundo.
 O fanatismo por Diego Armando Maradona ultrapassa o limite futebolístico. Mesmo as pessoas que não torcem pelo Boca Juniors ou são indiferentes ao futebol, não deixam de ter verdadeira adoração pelo craque portenho.
Percebi poucas igrejas em Buenos Aires e isso tem uma explicação; Descobri que a igreja católica foi uma aliada muito forte do regime militar que dominou a Argentina no chamado "anos de chumbo".
 A alta animosidade política e social gerada durante a “Revolução Argentina”, na verdade uma ditadura militar, e as lutas entre os diversos setores militares produziram dois golpes internos, sucedendo-se no poder três ditadores militares: Juan Carlos Onganía (1966-1970), Marcelo Levingston (1970-1971) e Alejandro Agustín Lanusse (1971-1973). 
Perseguida por uma insurreição popular crescente e generalizada, a ditadura organizou uma saída eleitoral com participação do peronismo (apesar de impedir a candidatura de Juan Domingo Perón), em 1973. 
Apesar de ter durado menos que a ditadura brasileira (comandou as decisões do país até 1983) a ditadura Argentina foi igualmente violenta. Estima-se que o governo ditatorial sequestrou mais de 30 mil pessoas nos seus sete anos de poder. Além disso, a crueldade da repressão fez com que vários dos argentinos que lutavam contra o governo fugissem do país, foram mais de 2,4 milhões de fugitivos do sistema. 
A partir do fim do regime ditatorial a religião foi perdendo espaço para a política. Podemos exemplificar esta situação lembrando que a Argentina foi pioneira na América do Sul no que diz respeito a lei que permite oficialmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Enfim, me identifiquei demais com o país dos los hermanos. Confesso que em certos momentos fui tomado pela inveja de sua organização, e imaginei o quanto o Brasil poderia ser melhor se nossos governantes, desde o descobrimento, fossem menos preocupados com o poder e mais com a educação do povo.
Mas, tudo bem! Continuo achando meu país um lugar adorável para se viver, apesar de todas as mazelas.
Não temos Maradona mas temos Pelé, Não somos tão bem educados mas temos calor humano, não planejamos nossas cidades mas temos as belezas naturais. Enfim, não troco minha terra por nenhuma outra! Sou brasileiro, mestiço e principalmente, com todo orgulho, carioca. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Crônica: Buenos Aires (parte II)

É praticamente impossível estar na Praça de Maio e não se emocionar. A Casa Rosada, sede do governo argentino, nem de longe nos lembra a "pompa" de Brasília. Mas aí é que está a questão, pela sua simplicidade, parece estar muito mais próxima da sua razão de existir, ou seja, a servidão ao povo.
Curiosamente, a praça propriamente dita é o local onde acontecem os protestos e reivindicações das mais diversas. As faixas, podemos dizer que permanentemente estendidas nas grades, fazem solicitações de toda ordem e acabam por se tornar parte da paisagem local.
Fica fácil percebermos o quanto eles são mais politizados que nós, o que me remete a pensar que esta politização está diretamente relacionada ao bom nível educacional que possuem, exarcebando um senso de patriotismo invejável. Fiquei admirado ao perceber que praticamente em cada esquina havia uma bandeira do país hasteada, tanto nos prédios públicos, quanto nos de empresas privadas e, pasmem, até mesmo em residências.
A natureza, que é parte integrante do escopo de Buenos Aires, justifica os bons ares que dão nome a cidade. Suas árvores plantadas com planejamento, cuidadas pelo poder público, e preservadas pelos seus habitantes, são mais uma demonstração do quanto são antenados para o conceito de desenvolvimento sustentado, que hoje é o que existe de mais politicamente correto no mundo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Crônica: Buenos Aires (parte I)

Como nunca tive nenhum tipo de rejeição ao povo argentino, me sinto muito  a vontade para falar daquela que para mim se apresentou como um modelo de cidade, Buenos Aires.
Porque ela é considerada a Paris Sul Americana, denominada como a cidade dos amantes, e tida como a terra do sol, ficou fácil entender.
Nesses dias em que lá passei tive a oportunidade de constatar tudo isso e um pouco mais. Buenos Aires é simplesmente fantástica. Como se não bastasse a sua arquitetura que mistura passado com futuro, antiguidade com modernidade e sofisticação com simplicidade, paira no ar uma sensação boa que transita entre o deslumbre e a tranquilidade.
O simples caminhar pelas Avenidas Córdoba e Santa Fé, esticando até a rua Florida já é o início de um belo programa. As ruas limpas, as lojas sofisticadas, a solicitude das pessoas, fazem com que não nos dê vontade de exercer qualquer tipo de comparação com outro lugar. A atmosfera local tem a capacidade de transformar até mesmo o maior dos irascíveis, assim como eu,  num romântico incondicional.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Crônica: O e-mail

Até que ponto temos que nos deixar ser escravizados pela tecnologia? Faço esta pergunta porque eu mesmo sou completamente dependente dela. Podem retirar minha escova de dente, minhas meias, os talheres que utilizo para comer e outras coisas, mas não me deixem sem internet, notebook, smart fone e telefone. Fico completamente perdido, o dia não começa e nem termina bem se algumas dessas parafernálias tecnológicas mem faltarem.
Por conta disso, eu me peguei pensando numa meia piada contemporânea que diz o seguinte: Certo dia um homem muito pobre e sofrido que vivia na roça, de forma muito miserável, resolveu que iria juntar algumas economias para tentar a vida na cidade grande. Durante alguns meses de trabalho conseguiu economizar um pouco mais que o necessário para a compra de uma passagem de ônibus. Não pensou duas vezes, embarcou para realizar seu sonho de mudar de vida.
Chegando na cidade, ele que sabia minimamente escrever o próprio nome e soletrar algumas letras, começou a procurar os mais humildes empregos. No entanto em todos os lugares que chegava perguntavam qual era o seu e-mail para contato. Ora, ele nem sabia do que se tratava! Mas, por dezenas de vezes não pode sequer se inscrever à vaga por falta do endereço eletrônico.
Cansado e com uns míseros trocados no bolso resolveu que ia lutar ao menos para sobreviver, pois nem condições de comprar uma passagem de volta ele tinha. Com o pouco que sobrou, entrou num mercado e comprou uma caixa de tomates, colocou-a sobre um cavalete improvisado na esquina de uma rua e começou a vender.
Vendeu a primeira caixa, com o que apurou já comprou mais duas, vendeu as duas e comprou mais quatro. Ao final de um mês já tinha uma barraca com algumas frutas e legumes, passados seis meses conseguira um ponto comercial e com dois anos tinha seu negócio registrado e estabelecido.
Foi quando recebeu a visita do gerente de um determinado banco: "...o senhor é um próspero comerciante, queremos torná-lo nosso parceiro lhe oferecendo crédito". E o homem que não entendia muito bem de assuntos bancários perguntou:"...e o que eu preciso para isso?" E o gerente:"...nada, tudo o que é necessário poderemos obter com seu contador, na verdade, só vou precisar do seu e-mail. O homem olhou para ele, coçou a barba, acendeu um cigarro e falou num tom de voz bem matreiro:"...Olha moço, vou te dizer uma coisa muito verdadeira, eu não tenho, nunca tive e não vou ter esse tal de e-mail, porque, acredite o senhor ou não, se eu tivesse essa desgrama, hoje eu estaria varrendo chão..."

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Filme: Domingo Sangrento (2001 - Inglaterra)

Domingo Sangrento - CartazO dia é 30 de janeiro de 1972. Na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, os cidadãos saem em passeata pelos direitos humanos. Sem motivo aparente, soldados britânicos atiram e matam 13 pessoas desarmadas e, a princípio, sem qualquer conexão com movimentos revolucionários. Esse episódio é conhecido como Domingo Sangrento e marca o começo do conflito que transformou-se em guerra civil, com muitos atos de violência e terrorismo. O filme acompanha, em estilo seco e realista, a vida de quatro homens envolvidos em ambos os lados do conflito.
Quem se interessa por história contemporânea não deve deixar de assistir. Muito provavelmente se perceberá a diferença entre o que os meios oficiais de comunicação nos fornecem e a verdadeira causa que motivou o surgimento de um dos grupos terroristas mais conhecidos no mundo, o Exército de Libertação Irlandês (IRA) cujo objetivo maior é a independência da Irlanda do Norte do jugo da Inglaterra.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Crônica: O Homem da Farda

Não vai muito longe o tempo em que a farda representava respeito, orgulho e correção. Lembro-me que na rua onde eu morava havia um  policial militar que era tido por todos como o símbolo maior da moralidade. Eu e a molecada jogávamos futebol em um campinho de terra que ficava em frente a casa dele, e foi o próprio que pediu autorização ao dono do terreno para nos deixar jogar ali, uma vez que brincávamos na rua tendo que conduzir a bola e driblar os carros.
Por esse feito ele ganhou todo nosso carinho e, principalmente, a simpatia dos nossos pais.
Geraldino (para nós Seu Geraldino) era do tipo que tinha boca mais não falava, era um senhor escuro, esbelto e elegante, em seus dias de folga colocava uma cadeira na calçada e ficava nos observando. Entendia de futebol, pois já tinha jogado e seu filho mais velho, Sirlei, conhecido como "pretinho" atuou profissionalmente em vários clubes de pequena expressão no Rio de Janeiro. Eu mesmo, acreditem, fui levado por ele para treinar no infanto-juvenil do Flamengo, passei uns três meses lá, mas os treinamentos eram em Caxias e como eu estudava durante o dia, comecei a perder muita aula e minha mãe me proibiu de ir aos treinos. Ainda bem, salve dona Ana, pois o mundo do futebol se livrou de ter mais um jogador medíocre.
Mas o que quero falar de verdade é como as coisas mudaram. Seu Geraldino chegava em casa fardado! Me lembro bem que quando ele ia lavar o carro sempre estava com a camiseta branca da corporação. Eu achava aquilo tão bonito que, aliado ao incentivo do meu pai, quase me tornei militar, pois aos dezesseis anos comecei um curso na EPCAR (Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica), queria ser piloto, mas abandonei logo no primeiro ano, não aguentei a pressão.
Bem, o fato do meu não enquadramento no militarismo não abalou a imagem que eu carregava do Seu Geraldino, nunca soube de nada, mesmo depois de sua morte, que afetasse seu prestígio. Lembro-me que ele tinha um VW Brasília que tratava com muito zelo, enguiçava algumas vezes, e não raramente parávamos o jogo para  ajuda-lo a empurrar.
Infelizmente agora os tempos são outros. Meus filhos nunca tiveram nenhuma admiração pela carreira militar, e para piorar não confiam na categoria. Não posso discordar deles, por mais romântico que eu tente ser, qualquer defesa fica difícil. O policial de hoje é muito mais temido do que respeitado. Uma conjuntura de mal feitos que vai desde a má índole daquele que se inicia na profissão, passando por corrupção, salário incompatível, conivência com o crime, falta de moral e de autoridade do poder público para comandar e outras coisas mais corroboram o sentimento de insatisfação de grande parte da população.
É claro que nem todos os frutos são ruins, não podemos julgar um por todos e nem todos por um, mas para nossa triste constatação, a predominância, pelo que foi dito, é dos maus.
Não podemos deixar de mencionar que nós, enquanto sociedade, temos ampla parcela de responsabilidade nessa realidade. Quando legislamos em causa própria acabamos por nos beneficiar pelo jeitinho. Entendemos que a lei deve ser exercida sempre para os outros e não para nós mesmos. Não é raro tomarmos conhecimento de fatos que não tiveram a devida punição porque os implicados eram figuras notáveis, ou ofereceram vantagens ou simplesmente se utilizaram de uma "carteirada".
Enfim, a transformação da sociedade inevitavelmente provocou a transformação das instituições. É uma pena que tenha sido para pior, mas o que temos hoje é o reflexo do coletivo que somos. Sem querer ser trágico, já sendo, não consigo perceber a curto e médio prazo como isso pode mudar, pois com cada vez mais necessidade de "nos darmos bem" não nos importamos em saber que estamos alimentando um monstro que não fará nenhuma cerimônia se tiver a oportunidade de nos atacar.
Por isso, feliz de quem conheceu Seu Geraldino, um homem de bem, que dentre muitas qualidades, honrava sua farda.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Opinião: Wando - A estrela que se apagou

Quem me conhece sabe que sou fã de jazz, blues e rock, não necessariamente nesta ordem, gosto também de MPB desde que seja de ótima qualidade.
Mas o fato é que, apesar de não me identificar com o estilo, quero demonstrar o quanto lamento a morte do cantor Wando no dia de ontem, aos sessenta e seis anos de idade. Nunca fui seu fã, mas não tenho como negar a importância que ele teve para a música popular brasileira.
Seu estilo brega, gostem ou não, sempre reuniu multidões femininas e arrebatou milhares ou até milhões de corações.
O cantor das calcinhas, do romantismo e, sobretudo, do toque singelo na alma, sucumbe à ironia pregada pela vida: o coração calejado de criar tantas emoções decide descansar. Infelizmente, para sempre. 
Sua performance fez história e suas músicas certamente ficarão para a posteridade.
Registro aqui meus sentimentos, e assim, como todas as "viúvas" do extremado romântico que cantava e encantava com seus fetiches, desejo que seu eterno descanso seja em paz!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Ensaio: Fundamentos Infundados de uma Sociedade (Final)

Não é por acaso que os países mais desenvolvidos economicamente, que outrora deram ênfase a questão educacional, são os que possuem o maior grau de satisfação por parte dos seus habitantes, pois a sociedade que  tem conhecimento dos seus direitos, fiscaliza seus representantes e exige o cumprimento do contrato estabelecido através do voto.
Segundo Maquiavel, os homens possuem uma índole má por essência e por isso não são dignos de confiança, pois são traiçoeiros, vingativos, dissimulados e covardes a ponto de para atingir um objetivo específico não importar o tamanho da maldade a ser realizada. É uma opinião controversa, mas que não pode ser descartada completamente sem antes avaliarmos.
Quando olhamos os diversos sistemas políticos que regem as várias sociedades mundo afora, percebemos que  qualquer um deles ainda não atingiu um estado de satisfação pleno. Uns estão mais próximos disso, outros mais distantes. Podemos dizer também que não existe uma receita pronta. O que é bom para uma determinada sociedade, necessariamente não surtirá o mesmo efeito em outra, pois, há vários fatores que são pertinentes e únicos em cada uma delas.
Ao nos remetermos, por exemplo, ao passado recente da América do Sul, percebemos que todos os países que a compõem se posicionam perante o mundo como democráticos.  Entretanto, podemos facilmente detectar a existência de diferentes formas de se exercer essa dita “democracia,” que no Brasil se apresenta de uma maneira, que não é a mesma da Venezuela, que não é igual a da Argentina, etc...  
O que é na verdade um Estado Democrático? Até que ponto o governo constituído pode e deve permear os direitos do cidadão? Como estabelecer a ordem sem ferir o princípio da liberdade? São questões complexas, mas que não devem ficar sem resposta uma vez que precisamos entendê-las para, a partir de então, tentarmos diferenciar democracia de demagogia.
Quando falamos em Estado Democrático o que realmente queremos abordar são as diversas maneiras que as várias sociedades se utilizam para que os atos do Governo sejam em prol dos seus cidadãos. Há nesse ínterim de se considerar o que cada uma delas anseia para si, pois, questões como religião, racismo e política se apresentam de forma muito particular, fazendo com que haja uma correlação ímpar em se tratando dos meios para se atingir o grau de satisfação necessário, se não de toda sua população, pelo menos de grande parte dela.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Livro: Afinação da Arte de Chutar Tampinhas

afinação da arte de chutar tampinhasDuvido que quem tenha sido moleque de rua como eu fui nunca se divertiu chutando uma tampinha.
Para quem não sabe, antigamente quase não existia garrafa plástica. Refrigerante, cerveja e outras bebidas eram em sua maioria na embalagem de vidro e as tampinhas (ou chapinhas) como também eram conhecidas tinham que ser retiradas com abridor próprio.
O livro de João Antonio, apesar de estar na categoria infanto-juvenil, é uma divertida leitura que certamente nos remeterá a um passado comum.
Trata-se de uma história narrada por um cidadão pressionado a se enquadrar socialmente e encontra muita dificuldade diante do modus operandi com o qual é forçado a interagir, mas que, sem conseguir aceitar as regras, prefere ouvir música e aprimorar o chute em tampinhas.
A música e a dança das tampinhas no ar representam, para o narrador, instantes de plenitude e beleza. 
Vale a pena experimentar esta bela leitura, independentemente da idade.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Opinião: Carnaval de Jesus

Tem algo meio esquisito acontecendo. O carnaval é ou não uma festa pagã? Até onde sei e aprendi, a ligação existente entre a "folia" e a religião (principalmente a católica) se restringe a uma questão de calendário.
 A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra "carnaval" está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão "carnis valles", que, acabou por formar a palavra "carnaval", sendo que "carnis" em latim significa carne e "valles" significa prazeres.
Se eu estiver certo amigos, como se explica a existência do Bloco Carnavalesco "Folia com Cristo" que desfilou pelas ruas do centro do Rio de Janeiro neste último domingo (05/02/2012)? 
Jesus Cristo agora virou patrono no mundo do samba?
Se vocês acham que perguntar aos foliões (que também podem ser fiéis, crentes, devotos e afins) vai nos dar uma resposta plausível, esqueçam. Pois os que foram entrevistados fazem um salseiro tão grande com a resposta que só justificam alguma coisa para eles mesmos.
Enfim, não tenho nada contra a diversão, pois como já disse várias vezes sou um amante da folia. Só espero que estes neo-foliões sejam sinceros e não venham tentar dizer que está escrito em algum lugar que o carnaval também é uma celebração à Cristo. 
Tomara que sejam honestos (bloco não é procissão) e assumam suas fantasias, botem o samba na rua e deixem o bicho pegar, que corram para o abraço, sem medo de ser feliz.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Crônica: Turma do Aterro

Como costumo dizer, uma boa amizade vale mais do que dinheiro. Na última sexta feira (03/02/2012) eu e mais onze amigos nos reunimos para relembrar os tempos de "pelada" no Aterro do Flamengo. Haviam alguns que não se viam desde o ano 2000.
Para se ter uma ideia, moro a doze anos no mesmo prédio que o Ronaldo, jogamos juntos, e só fui saber disso agora.
Foi um encontro pra lá de descontraído num restaurante do Largo do Machado.
Foi naturalmente engraçado perceber como as pessoas se transformam fisicamente ao longo dos anos. A começar por mim, hoje com noventa por cento dos cabelos brancos. Alguns usando óculos, outros com uma barriguinha mais saliente, enfim cada um com a mudança que o tempo reservou para si.
No entanto, o mais interessante é que o espírito "moleque" continua presente. Minha mulher costuma dizer que homem não cresce, fica eternamente menino. Já concordo com ela a muito tempo e mais uma vez tive a possibilidade de confirmar isso. Ilustres senhores que passaram dos trinta, quarenta e cinquenta e poucos anos sentados numa mesa e conversando como se estivesse ali uma rapaziada adolescente.
É bacana perceber este "espirito carioca" que  nos cerca, a descontração, a leveza, o orgulho de sermos uma das muitas "turmas do aterro" que vingou e transformou aquele futebol, que nem sempre era dos melhores, um encontro noturno duas vezes por semana, em uma relação de amizade que foi além dos limites do esporte.
Não posso deixar de mencionar a dedicação do Paulinho e do Eduardo! Há muito eles se empenham em fazer acontecer esta reunião, e conseguiram, com louvor.
Claro que por motivos diversos alguns que faziam parte do grupo não puderam comparecer, o Jorge por exemplo. Mas, como toda boa reunião, já saímos dali com o compromisso de realizar uma próxima, dessa vez revivendo todo o início com uma pelada regada a comes e bebes. 
Tenho plena certeza que não conseguiremos ter um terço da performance que tínhamos naqueles tempos, mas isso é o que menos importa, o que realmente tem relevância e não perdermos a liga, não deixarmos essa amizade tão bonita se esvair, é preservarmos os garotos que ainda estão dentro de nós, é saudar a vida, é fazer com que essa amizade possa ser passada adiante por meio de nossos filhos para que eles percebam, que em tempos de tanto individualismo, ainda vale a pena, e como vale, ter verdadeiros amigos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ensaio: Fundamentos Infundados de uma Sociedade (parte II)

É comum em sociedades menos desenvolvidas obtermos a inversão de papéis, dado o fraco entendimento dos cidadãos quanto ao processo democrático. Normalmente percebemos que isso ocorre principalmente em razão do baixo nível de escolaridade e do pouco, ou nenhum, engajamento político. Nessas sociedades não é raro o fato das pessoas negligenciarem a esfera política a ponto de inocentemente conceberem suas vidas dissociando o ser privado do ser público.
Ao recorrermos a história recente de algumas sociedades, percebemos  que em boa parte delas onde o regime democrático foi implantado, o mesmo ainda não se encontra consolidado. Confunde-se democracia com o direito (ou a obrigação) do voto, seus fundamentos não são respeitados, seus princípios são violados e seus agentes, muitas vezes, se apropriam, individualmente, dos resultados  por ela proporcionados.
Não é por outro motivo que alguns autores questionam o estado democrático, colocando em xeque sua eficácia e apontando suas fragilidades no sentido deste permitir o surgimento de atores políticos mal intencionados.
Não compartilho desta opinião, pois, sempre concebi que não somente a democracia, mas a aristocracia, a monarquia e até a tirania, possuem virtudes e imperfeições. O que realmente define se um regime é salutar ou nocivo a uma sociedade é o que esta mesma sociedade espera para si e quais as condições que foram por ela conquistadas, de modo a buscar, via seus representantes, o que é importante para sua existência e satisfação.