quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Crônica: Um Rio de Lágrimas!

"O dia amanheceu mas não havia sol, nenhuma flor nasceu pra perfumar o ar...". Este é o trecho de uma música que fazia parte do repertório da banda pop-rock Os Quatro da Manhã, onde eu tocava nos anos de 1980. Foi exatamente assim que percebi o dia de hoje após tomar conhecimento da tragédia ocorrida na noite anterior, no centro do Rio de Janeiro, mas exatamente na Avenida Treze de maio, 44 - Cinelândia.
Trabalho num prédio que não fica a mais de trezentos metros do local. Logo ao chegar em casa, por volta das 21:00 recebi um telefonema do meu irmão perguntando se estava tudo bem comigo, pois havia acabado de acontecer uma catástrofe nas proximidades da empresa. Ao ligar imediatamente a TV para me inteirar do fato conclui que se eu houvesse saído meia hora mais tarde, o que acontece habitualmente, teria sido testemunha ocular do terrível espetáculo.
Hoje quando acordei parecia que na verdade eu não havia dormido, pois a mesma sensação de tristeza permanecia forte dentro de mim e provavelmente com mais intensidade já que "a ficha havia caído".
Me dirigindo para o trabalho percebi que não estava sozinho na minha angústia. Observei várias pessoas em rodas, bancas de jornais, bares, esquinas e afins discutindo o assunto com dor e sofreguidão. Todos tentavam achar uma explicação lógica para o ilógico, buscando através do coletivo diagnosticar o que pode ter ocorrido para que um prédio de vinte andares viesse abaixo feito um castelo de areia, levando consigo dois outros menores um de dez e outro de quatro andares.
Mais do que tentar descobrir o que motivou esse desabamento é a minha tristeza em relação aqueles que perderam suas vidas, seus parentes, seus amigos, seu trabalho e suas empresas. Tudo virou pó numa questão de segundos. Como o prédio maior já passava dos setenta anos de construção, imagino quanta história de vida se perdeu ali, e me pergunto: O que será dos sobreviventes após tudo isso?
Sou um carioca apaixonado. Sei de todos os problemas que temos que enfrentar no dia a dia, principalmente no que se refere ao ir e vir para o trabalho, mas nada me faz perder o encanto e deslumbramento pela cidade, pelo contrário, todos os dias percebo uma coisa bonita acontecendo sempre bem perto de mim e acredito que como eu, boa parte dos cariocas pensam assim.
Além de me solidarizar completamente com todas as vítimas em menor ou maior grau quero aqui expressar minha dor também pela cidade. O Rio de Janeiro não precisava de mais essa! Como se já não bastassem as tragédias naturais, com a contribuição humana, que tem nos atingido frequentemente nos últimos anos, agora perdemos um pedaço importante da cidade. A Avenida Treze de Maio não será mais mesma. Eu que passo por ali quase que diariamente terei muita dificuldade em conter minha emoção.
Tenho verdadeira paixão pelo centro e principalmente por essa região que concentra, além de prédios com belíssima arquitetura, o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes.
Certamente levarei algum tempo para absorver tal impacto, mas não tem outro jeito, terei que conviver com isso. Posso apostar que permanecerá a sensação de perda de um ente querido, que acostumamos, mas não esquecemos.
Choro por ti meu Rio, minha cidade, meu pedaço de chão que não troco por nenhum outro lugar no mundo. Choro por nós Cariocas, povo amável e descolado que não merece, a essa altura, tamanha dose de sofrimento.

Um comentário:

  1. Compartilhamos o sentimento de perda irreparável. É triste saber o quão frágeis somos diante de tamanha tragédia.

    ResponderExcluir